desfastio de Ares
Eles saem para passear a noite.
Os fantasmas das
florestas, das rodovias, das pontes, das ruelas etruscas, dos campos
de guerra, das trincheiras, da senzala, da Alemanha, Rússia, China,
de Esparta, de Tróia, da Terra Média, do fundo do mar, de trás das
nuvens, dos meus ancestrais, das casas, das mentes, das memórias de
cada um.
Índios, escravos, judeus. As mulheres de
Atenas.
Cada ser que já pisou nessa terra regada a sangue
carrega, ainda intrínseco à si, alguma dor.
Qualquer que seja,
quaisquer que sejam.
Dores físicas, extra físicas,
psíquicas.
A perda de um amigo, uma mãe, um pai, um filho, um
amor,
ou ainda, a perda de si.
A dor de um
corte, um tiro, um açoite, fogo na carne, gelo no sangue ou no
peito, de um amor perdido, não respondido, nunca sentido, não
esquecido.
De cada abandono, desprezo, humilhação e
hostilidade,
De cada sofrimento assistido
de uma
memória que te assola a alma.
As lágrimas já derramadas
por cada criatura já vivida,
renderiam um oceano
inteiro.
Um retrato mostra os olhos, mas o que esses olhos
guardam? O que eles já viram?
Um retrato
realista?
Dorian Gray
Eles saem para
passear a noite,
caminham sob a luz da lua, ou sob luz
nenhuma.
Faça estrelas, faça chuva.
Eles
dançam na escuridão e você sabe disso, você sente cada movimento,
e eles sabem onde você está, sabem onde te encontrar.
Sabem
como machucar, cortar, sangrar, perturbar, adoecer.
Eles sabem
te deixar no chão.
Conquanto não se preocupe, eles não sabem
como matar.
Mas eles sabem te afundar tão baixo
que
você mesmo seria capaz de fazê-lo.