segunda-feira, 11 de abril de 2016

Heroína

Um objetivo de vida sempre foi ser feliz, o da maioria das pessoas é, claro, mas alguns levam isso bem a sério, velas de aniversário, cílios, placas de carro, estrelas, ondas do mar. 
E repete-se: 
felicidade, 
felicidade, 
felicidade... 
Nada mais natural ao decurso da vida, mas às vezes chega aquele momento em que se pensa, será que esse é um objetivo de vida? 
Para que servem metas se fazemos planos e mais planos somente para que a vida os desfaça na nossa cara. Se subimos tão alto, só para ser maior a queda. 
A felicidade plena é realmente necessária? Ou melhor, ela realmente existe, ou é um mito criado para as crianças pararem de pedir presentes caros para os pais, 
ou milagres imediatos para Deus? 
Fica bem mais fácil, não? Jogar tudo para um propósito de vida que nos atrai à essa busca incessante por felicidade plena e paz duradouras. 
Sem nem ao menos saber se realmente existe. Alguém já chegou lá? Alguém sabe como é? 
A felicidade, assim como a tristeza, são drogas viciantes, que disputam os nossos corpos e mentes como os narcóticos disputam pelos viciados, ou como dois viciados disputam pela última pedra de crack. 
Na tristeza, quando se entra, entorpece, e se torna quase impossível sair. 
E a felicidade, ah, essa é ainda mais tóxica e cruel, ela é como heroína se apresenta em pequenas doses, e nos faz dar tudo, absolutamente tudo, em troca de um pouco mais, e nós damos tudo, na esperança de que a sensação seja plena e duradoura.
O mundo em que vivemos não permite que nenhum exista plenamente, em toda felicidade há tristeza, e em toda tristeza há enlevo. 
Mas se não podemos parar, que faremos, então? Lutaremos por propósitos plenos e fantasiosos, ou nos deixaremos cair em realidade dura e funda? Enquanto o relógio ecoa ao fundo: tic tac tic tac. Se atente. 
Neste mundo possível, não há resposta para essa pergunta.