quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A humanidade é desumana, ou quem sabe humana demais, talvez por isso seja necessário haver um Setembro amarelo

Não me era possível imaginar tamanha frieza. Pessoas assim não sentem e eu não consigo entende-las, porque eu sinto, sinto muito.
Sinto tanto que sinto por eles e sinto muito pelo resto do mundo que sente.
Um soco, dois chutes e tudo certo. Talvez uma escarrada só para completar o serviço.
E nós assistimos à televisão sentados em nossos sofás, enquanto o mundo se degrada e corrompe a todos,
Um a um.
Haveria de se culpar quem se deixa corromper? Ou ainda os que não resistem e desistem?
Eu não os culpo, como poderia?
Mas a porta que se fecha e a luz que se apaga diante dos olhos mais serenos, são apenas uma demonstração do que está por vir.
Aquela escada que nunca acaba contra o tempo que nunca basta. Nos tira a todos a esperança.
E a lâmina nas mãos e a garrafa de vinho barato selam o desejo íntimo escondido a sete chaves.
Não me deixe cair, por favor, não me deixe cair.
Daqui de cima vejo as luzes,
lá em baixo elas se apagam.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Minha deusa me resguardou, com seu 1.65/7, de tudo o que não está aqui


Mas essa deusa de um metro e sessenta e cinco/sete, 
que me escreve 
mas nunca me mostra, 
e que vem, não importa a hora, 
só pra me ver, 
e eu caminho por horas, 
só para vê-la 
e que me beija a testa, 
a boca 
e o corpo. 
bem, há nela o suficiente para ser agarrado 
e eu me agarro toda nela, 
puxo-lhe a cabeça para trás 
pelos cabelos de loopings infinitos

depois nos deitamos enlaçados como vinhas humanas 
seu braço esquerdo debaixo da minha cabeça, 
seu braço direito sobre o lado do meu corpo, 
aferro-me às suas mãos, 
Teu corpo nu no meu
Teu toque quente na minha pele fria
Quando nos entrelaçamos, pés e braços. parecemos um desenho de Yin-Yang.
E as galáxias nas tuas coxas,
junto com as marcas na minha carne.
Aquele desejo que me corta de beijar teus seios.
De te sentir comigo
de me sentir em ti.
Minhas mãos nos teus cabelos,
Tuas mãos nas minhas coxas
minha boca nos teus seios,
e a tua que começa na minha, passa pelas minhas clavículas, desce até a minha cintura
e só para quando encontra o nirvana.
e através de nós, 
no escuro 
passam raios pra lá e pra cá pra lá e pra cá até que eu desfaleça e nós durmamos. 

ela é selvagem 
mas dócil 
minha deusa de um metro e sessenta e cinco, 
faz-me rir a risada do mutilado que ainda precisa de amor,
e seus olhos abençoados fluem para o fundo de sua cabeça como nascentes na montanha ao longe nascentes frescas e boas. 
ela me resguardou de tudo o que não está aqui.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Algumas palavras tem os sentidos mais diversos imagináveis

Se eu dissesse que não controlo minha mente, ela que me controla, estaria sendo paradoxal? Uma vez que nossa mente somos nós e nós somos nossa mente, seria possível nos separar dela?
Mas eu repito, amor é tudo aquilo que dissemos que não era, ou quase tudo. E no escuro me vejo, enquanto te espero na hora morta, percebo que a culpa nunca foi de ninguém, nem sei se há algo a se culpar. A necessidade humana de enfiar a culpa em alguma alma alheia é tamanha que ultrapassa os limites da razão e da decência. Mas que diabos é mesmo essa tal de decência? Porque, particularmente, me recuso a aceitar os conceitos pré-concebidos que ensinam por ai.
Uma queda brusca de energia em meio a um texto me soa indecente.
Uma construção que obstrui uma paisagem, soa indecente.
O excesso de luzes e prédios cinza e sem vida que impedem de enxergar as estrelas à noite e a falta de bosques nessa cidade, me parecem extremamente indecentes.
Acho que escreverei um livro, sobre coisas indecentes, ou sobre os conceitos tão errados que as pessoas mais velhas ensinam às mais novas, que quando se tornam velhas ensinam também, e criam esse ciclo vicioso de ignorância e indecência. Acho que gostei desta palavra. O livro provavelmente ficará juntando poeira na estante da livraria caso o funcionário que cuida dela seja meio indecente.
Mas tudo bem, escreverei mesmo assim só pelo prazer ou pela necessidade, e se uma única alma entender o que eu quero dizer, já me dou por satisfeita em 101%.
É algo raro de se encontrar hoje em dia, alguém que entende, e se estivesse há cem, duzentos ou quinhentos anos atrás, poderia dizer o mesmo. O problema não é o tempo, o problema são as pessoas e o mundo que continua igual mesmo depois de milhares de anos, somente com mais danos ao ambiente e mudanças sutis e superficiais. Se você para pra pensar direito, tudo continua o mesmo.
O mundo é decepcionante, quanto mais você descobre, mais quer descobrir e ai chega aquele momento em que as coisas que você descobriu te consomem e te sufocam como areia movediça, como as nuvens sufocam o céu quando o dia está nublado. E ai você quer esquecer tudo e voltar à visão medíocre e maravilhosa, mas percebe que não dá. Então, por fim, você senta, acende um cigarro, esvazia uma garrafa e espera, ou escreve, ou qualquer coisa que te mantenha longe das pessoas,
e o mais próximo possível da sanidade.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Melifluo

Acendo um cigarro e desço correndo as escadas
na esperança de te encontrar sentada nos degraus a minha espera. 
Pensei ter ouvido a sua voz
mas acho que foi só impressão minha.
Tua voz ecoa na minha cabeça repetidamente 
como aquela música que você não consegue parar de cantar, 
por mais que eu tente, ela não para. 
Mas talvez eu não queira realmente que ela pare de soar, 
porque se não corro o risco da minha sanidade desandar como 
clara em neve com água.
Ela me mostra a luz que até o caminho mais escuro pode ter. 
Essa voz repete meu nome em um tom suave e doce. 

Até que eu possa ir te buscar, 
fico aqui com ela.