domingo, 15 de novembro de 2015

Absolem

Porque o que escrevo vem de delírios que poderiam ser conseguidos com alguns drinks, cigarros caros e uma hora de desabafo de alguém. Ou simplesmente me deito e espero.
Levantar não é tão fácil assim, nem se afastar do parapeito da janela do vigésimo andar, ou guardar os comprimidos e a lâmina de barbear de volta no espelho daquele banheiro sujo.


Ninguém entende os suicidas.
Quando eu soube que ele tinha pulado em direção ao rio congelante, o que pensei foi "por que não esperou até o verão?" não estou sendo insensível, simplesmente compreensiva, entende? as vezes simplesmente não há o que fazer, ou não sabe-se o que fazer.
Não disse que concordo, nem quem discordo, somente que compreendo, porque as vezes chega-se em um momento da vida em que nada parece certo, nem a perspectiva de que um dia dê, então para que manter esse sofrimento todo se a liberdade está a um ato de distância? Entende?
Provavelmente não.


Ninguém entende os ladrões nem os homicidas.
E ninguém tenta entender, "monstro""pobre da vítima" são os únicos termos de suas mentes restritas. Claro que nem sempre se aplica, alguns o fazem somente por prazer, mas você não acha que, para chegar ao ponto de matar alguém, a pessoa deve ter passado por poucas e boas?


Fui assaltada uma vez. Fiquei em choque, estática, um moço gentil se aproximou "está tudo bem" "não sei, temos que perguntar" "perguntar?" "isso, perguntar. Comigo está tudo bem, mas e o ladrão?" "o que tem o ladrão?" "será que ele está bem? ele não deve estar bem, para ter assaltado alguém, deve ter acontecido alguma coisa. Devemos ir atrás dele, ver como ele está"


O moço gentil me olhou com cara de espanto, como se eu fosse louca. Talvez eu seja mesmo.


Mas sabe, não tive uma vida verdadeiramente ruim, tenho pais que me amam, uma casa, um irmão irritante e uma mulher incrível. 
Mas ainda assim, não consigo afastar essa coisa toda de mim, é como um mal que consome a gente, que nos proíbe de ter paz. Lembranças que te assombram como fantasmas, outras que fazem fantasmas parecerem brinquedo de criança.


Lembranças consomem, e se alimentam da sua paz


Tenho uma sinceridade oriunda de putas e hotéis sujos de beira de estrada. É parte de quem  sou. 
As vezes paranóica, dissimulada, louca e sincera. 
Outras vezes calma, estável transparente e sincera. 
Ou ainda impenetrável, obscura, ininteligível e sincera. 
Minha personalidade muda mais do que uma mente humana medíocre e banal conseguiria entender. 
Mas você, sua mente não é comum, não é mesmo? Não passa nem perto de ser medíocre ou banal, ou simples ou comum. 
Sua mente é única, e quase compreende a minha de uma forma única.
Quando disse aquilo, jurei que se referia a mim. Me lembrou daquele velho senhor que me parou um dia e disse palavras semelhantes "você, vocês, todas aí dentro de você. Você tem um dom, menina, um não, muitos, você é muitas"
uma por vez e todas ao mesmo tempo. 
Às vezes me perco nesse pandemônio que chamo de Eu. Não dei atenção ao velho senhor, pensei que estivesse louco. 
Mas não me dei conta de que estamos todos.


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