E nesse quarto escuro, não vejo nada além de uma singela luz que
me permite escrever para você.
Não. Este não será para você.
Este será para a escuridão que me embala. Para Chopin que acaba
de tocar e me agraciar com suas melodias, ou para o silencio que
agora me ensurdece. Esse será para minhas estrelas cor púrpura.
Para aquela borboleta na parede que me fitava alguns minutos atrás;
ou seriam horas? Não sei ao certo quanto tempo passou desde que
escureci.
Talvez para aquele grilo lá fora, que canta para a lua e para as
estrelas, e para mim, e para quem mais possa estar ouvindo. Não para
você.
Talvez para a lua e para as estrelas, para o céu, o nosso céu,
que você decerto pode estar admirando, mesmo que somente em sua
mente.
Talvez para o som das árvores que balançam ao vento, para o som
da caneta no papel ao escrever estas linhas, ou mesmo para um objeto
qualquer que derrubei ou no qual esbarrei em meu costumeiro
infortúnio.
Pode ser para o vibrar do meu telefone recebendo mensagens tuas,
para o meu sorriso ao ler tuas linhas; para o sentir em meus olhos
quando vejo imagens e palavras tuas nas paredes escuras, ou quando
ouço tua voz em minha mente nesse silencio absurdo.
Ou quando tento não escrever sobre você em mais uma noite
lúgubre e, mais uma vez, falho miseravelmente.