sexta-feira, 21 de abril de 2017

Falenas que aqui habitam

Nem todo jardim tem flores...


Ela caminha de forma decidida, move seu corpo como uma serpente, pra lá, pra cá. Nos seus olhos, até mesmo os mais astutos encontraram dificuldade de penetrar e encontrar o que guardam.

Sua mente, inviolável.

seu corpo naquele vestido vermelho com aquela meia calça rasgada, desconcerta quem olha.

Seu olhar de desprezo varre as ruas.

Você diz que só quer se divertir, mas eu sei, meu bem, você está tentando fugir.

Mas tudo bem, você consegue enganar os outros, mas não a si mesma, não é? Por mais que você tente, sua mente não deixa. Mas está tudo certo, enquanto tiver uma garrafa de absinto, ou de qualquer vodka barata que encontrou no posto de gasolina.

O álcool entorpece e você gira e gira e não pensa. Eu sei quem você é. Eu sei como é.

Enquanto você finge que é isso mesmo o que quer, teus segredos estão sendo desvendados.

um.a.um.

Você se lembra tão claramente daquela noite, não é? Quando aquele líquido vermelho escorreu do teu pulso pelo corte que você mesma fez.

Mas fique calma, meu bem, agora você foge do silêncio do teu apartamento, com medo que isso se repita.

Ninguém ouviu seu grito contido naquele dia em que você deitou, olhou para o lado e viu um líquido vermelho fluindo por uma abertura imaginária. Quase esquizofrênica. Mas você pensou naquilo por dias. Alguns diriam que você precisa de terapia, mas você acha que álcool é o bastante.

Você observa a moça das flores e a inveja por ter perspectiva, seria muito mais fácil, não?

Entre as luzes noturnas, da lua e da rua e do bar.

ela passeia pela noite.

E pela manhã,

nem mesmo se houvesse silencio,

ouviria-se os soluços contidos de desespero.

...mas alguns tem


Ela vive em meio ao caos, um jardim do mal. Na busca pela sobrevivência, e puramente sobrevivência, ela, como único ponto de luz de uma ilha inteira escurecida, se encarde com a sujeira dos demais. 

Ela carrega flores, nas mãos, nos lábios, nos olhos.

A noite é longa e pesada, o barulho dos carros, as luzes e as cantadas de bêbados nauseantes.

Mas se torna ainda pior quando eles tocam sua pele suave com aquelas mãos imundas de rua e malícia.

A dúvida permeia cada contato, as más intenções nunca ficam visíveis até que seja tarde. E aí, bom, é tarde.

A inveja a consome quando vê alguém que gosta do que faz. A moça de vestido vermelho em seu prazer habitual. Ah como você também queria gosta não é? Tornaria muita coisa tão mais fácil.

O mundo fode com você, e você fode com ele. Mas a esperança te mantém viva, ao menos em corpo.

Ela passeia pela noite.

E pela manhã,

nem mesmo se houvesse silencio,

ouviria-se os soluços contidos de desespero.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Devaneios em praça pública


Me vem algo, como se fosse um texto se escrevendo sozinho na minha mente e eu ignoro todas as normas de pontuação e erros ortográficos para não perdê-lo de vista, 
corrijo depois.
Algo definitivamente não esta certo, minha memória falha em me mostrar o que, mas eu sei, eu sinto.
A alegria não pode durar, não foi feita para isso, a felicidade também não.
E só para deixar registrado, reafirmo, a vida te leva alto só para te mostrar o quão dura pode ser a queda e o quão baixo você pode cair.
Mando mensagens aleatórias, aguardo uma resposta.
Meus dedos se movem sobre o teclado e eu sinto falta da caneta.
A tinta passando de forma permanente na folha de papel 
branca ou parda.
Acho que gostamos tanto da era digital porque é tão fácil escrever e
Apagar,
E depois fingir que 
nada aconteceu.
Escrevi um livro quase inteiro
E o deletei;
Foi tão fácil quanto piscar.
É fácil corrigir os erros quando digitamos e apagamos caso não fique como queremos, 
E podemos começar tudo de novo.
Desfazer um erro e refazer.
Ctrl z é o comando mais maravilhoso que há, e a maioria concorda.
Talvez porque não haja um ctrl z na vida e então manifestamos esse desejo no meio digital mais próximo.
E é por isso que dessa vez eu não vou apagar nem uma linha do que escrevi em meio a este 
devaneio sentada em uma praça no 
centro da cidade.
Talvez pareça a página de um diário, ou um relato desnecessário, mas Bukowski me ensinou a escrever 
para mim e do meu jeito. 
Porque alguma coisa nessa vida tem que ser 
para mim e do meu jeito, 
engano meu pensar que controlo as palavras que minha alma vomita, mas serve, por enquanto serve.
Quero fumar, deus, como queria acender um cigarro e fumar até o fim.
Mas mesmo para isso sou covarde demais, tenho medo de viciar, e nunca mais conseguir parar.
Tenho um pavor da ideia de depender das coisas, de algo ou de alguém.
Engraçado ser justamente esse um dos males que me acometeram,
Só para esfregar na minha cara que eu não consigo controlar nem mesmo minha vida, ou a mim mesma, e isso lá é jeito de enfrentar nossos medos?
Os medos são uma coisa peculiar.
Eles nos revestem e depois 
se vestem com a nossa 
pele.
Um pouco de ar fresco faz bem, 
tolice pensar em fumar se eu nem ao menos consigo 
respirar quando alguém está 
fumando.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Rascunho qualquer sobre a conexão humana

É isso que nós queremos, nos conectar.
É por isso que gritamos e clamamos.
Uma conexão.
Algo que nos tire desse ciclo de tédio.
Alguém com quem possamos gritar nossos desejos repentinos e aleatórios,
com quem possamos falar algo íntimo e sermos compreendidos.
Alguém para quem possamos expor aquela parte que arranha no nosso mais íntimo ser, aquela pessoa que somos, com todos os aspectos de uma personalidade ocultada pela rotina e pelas expectativas alheias, aquele ser selvagem que habita em nós e que grita para ser libertado,
E libertar sem nos sentirmos vulneráveis, incompreendidos.
Alguém que não precise de todas aquelas formalidades.
Alguém cuja alma grite de volta quando a nossa alma grita.
Alguém que só grite de volta.
Ou sussurre de volta.
Alguém que entenda as palavras, as linhas e as páginas que somos em nós mesmos, mesmo nos momentos mais líricos ou mais confusos.
Para sentirmos que não estamos sozinhos nessa realidade fria.
O ser humano e sua busca incessante pela conexão.
Alguém que nos leia como o livro multi interpretativo e subscrito que somos.
Nós, artistas, escritores, consciências, pedaços espalhados, humanos, só e tão humanos.